O problema
não foi o que o Bolsonaro disse, mas a forma e o momento que escolheu para
falar. Não me apegarei ao sentimentalismo e a comoção generalizada do atual
momento. Quero me ater ao Bolsonaro. Há muito tempo venho tentado escrever algo
sobre ele, mas são tantas coisas, tantos pontos, que a preguiça acaba me
vencendo. De fato o Brasil não tem estrutura para segurar um arrocho econômico e
vamos lembrar que a economia não cresceu como o esperado. Uma boa parte do
nosso PIB é composta por microempreendedores acharcados por uma pesada carga
tributária e que em sua maioria não
possuem capital de giro para bancar um período de árdua crise. Por outro lado,
temos uma pandemia que poderia (e pode) afetar o nosso já precário sistema de
saúde (lembrando que a maioria dos municípios possuem recursos escassos e encontram-se longe
dos grandes centros urbanos). O problema não está na letalidade do vírus e sim
na propagação e na quantidade de pessoas que irão recorrer a este sistema.
Estamos diante, portanto, de um dilema digno de um experimento de Bostyn. O que
está errado aqui é a postura do Bolsonaro, que dia após dia, insiste em
governar como se estivesse num grande churrasco da sua família. É a falta de
tato do cara que escolhemos para liderar a nação (antes que me apareça aqui um
esquerdista chato pra caralho para dizer que não votou nele, aviso que me
refiro ao povo dentro do sistema democrático). Muita gente morreu ao redor do
mundo, isso é um fato, não é uma conspiração da Rede Globo com o George Soros e
os Reptilianos. Sabemos que a maioria de nós não pertence ao dito grupo de risco, e como havia dito anteriormente, não vou apelar indagando: " Mas e se fosse o seu avô, você ainda aplaudiria o mito?" Sendo o mais pragmática possível, pergunto: Diante de tantas mortes, como pode o chefe soberano de um país minimizar o problema em rede nacional da forma mais estapafúrdia possível? Como levar um cara deste a sério? Que credibilidade mundial este cara vai ter? Vamos analisar a longo prazo. Aliás, podemos analisar o que tem acontecido até aqui. Bolsonaro constantemente desautoriza os seus ministros, está sempre num "bate-boca" eterno com a imprensa brasileira, vive de picuinhas no Twitter e quando é cobrado (prerrogativa do cargo que exerce) se vitimiza, age como um perseguido político (nada muito diferente do que fazia o Molusco). Se tivesse agido como um líder sério no primeiro momento, talvez não chegássemos a este ponto. Mas preferiu tocar o seu rebanho num ato irresponsável (talvez só tivessem atletas naquelas manifestações, né?). Bolsonaro age como um monarca soberano, quer governar sozinho, ops, quer governar apenas com os seus pimpolhos. Não o vi se reunindo com os governadores dos Estados, buscando uma solução coletiva, para que todos falassem a mesma língua. Bolsonaro prefere agir como um bom populista (se eu falar que ele lembra o Molusco estarei sendo repetitiva?), fala direto para os fiéis eleitores, que o defendem cegamente a ponto de fazer a Família Manson parecer um bando de insubordinados. Em vários municípios há toque de recolher, há determinação judicial que impedem as pessoas de abrirem os seus comércios, de transitarem normalmente nas ruas. Como passar por cima disso? Como falar para o povo desobedecer? Como desacreditar as autoridades locais? Analisem este comportamento sem paixão. Devemos voltar a trabalhar? Óbvio! Mas precisamos de um plano, agir gradativamente, com responsabilidade e para isso, precisamos que os governantes estejam alinhados. Até quando teremos um presidente bonachão? Respondo: até quando existir uma plateia sedenta pelas suas mitadas. Turn Down for what!